terça-feira, 17 de julho de 2012

Fábulas com interpretação textual

A Escola da Bicharada

Na escola da bicharada, dona Corujinha, por ser muito sabida, é a professora.
O Burro ainda não sabe ler. A Preguiça dorme o tempo todo e até hoje nada aprendeu.
A Hiena só dá risadas. O Macaco só faz palhaçadas.
O aluno que dá mais trabalho é o vaidoso Pavão. Ele não fica quieto na carteira, passeia o tempo todo, pra lá e pra cá, com sua cauda colorida.
Um dia o Pavão falou:
- Como sou belo! Vejam minhas penas!
O Macaco deu uma pirueta e respondeu:
- Ó vaidoso animal! Olhe para seus pés. Veja como são feios.
O Pavão olhou para os pés, levou um enorme susto e ficou muito triste até o fim da aula.
(Adaptação da Fábula de Esopo)

Após ler a fábula com atenção, responda as questões a seguir.

1. Qual é o título do texto?

2. Quem são os personagens?

3. Quem é a professora da escola e por quê?

4. O que o texto informa sobre o Burro?

5. Por que o Pavão é o aluno que dá mais trabalho?

6. Em quantos parágrafos o texto foi escrito?

7. Retire do texto a frase que mostra o que o Macaco respondeu ao Pavão:

Produção textual

Agora, você é o autor, crie uma moral para a história.

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Leia o texto com atenção e responda as questões de 01 a 07.


Um dia a raposa, que era amiga da cegonha, convidou-a para um jantar. Mas preparou para a amiga uma porção de comidas moles, líquidas, que ela servia sobre uma pedra lisa.
Ora, a cegonha, com seu longo bico, por mais que se esforçasse só conseguia bicar a comida, machucando seu bico e não comendo nada. A raposa insistia para que a cegonha comesse, mas ela não conseguia, e acabou indo para casa com fome.
Então, a cegonha, em outra ocasião, convidou a raposa para jantar com ela.
Preparou comidas cheirosas e colocou em vasos compridos e altos, onde seu bico entrava com facilidade, mas o focinho da raposa não alcançava. Foi a vez da raposa voltar para casa desapontada e faminta.

MORAL: "Não faça aos outros o que não quer que lhe façam."

1- Quem são as personagens da fábula?

2- Por que a cegonha não conseguiu comer a comida que a raposa preparou?

3- O que a cegonha fez para se vingar da raposa?

4- Como a raposa voltou para casa?

5- Qual o ensinamento da fábula A Cegonha e A Raposa?

( ) Que devemos nos vingar dos nossos inimigos.
( ) Que devemos convidar nossos amigos para jantar.
( ) Que devemos tratar os outros como desejamos ser tratados.
( ) Que a cegonha não consegue comer em pratos lisos.

6- Qual o título do texto?

7- Quantos parágrafos têm este texto?

Produção textual

Agora é a sua vez de ser o(a) escritor(a).

A seguir temos o início de uma pequena fábula. Dê um título, um final e uma moral para ela.
Sua continuação do texto deverá ter entre 4 e 8 linhas.

Título: ____________________________

Uma minhoca viu uma serpente que dormia à sombra de uma figueira.
Com inveja de seu tamanho, quis igualar-se a ela.

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O pulo do gato - com interpretação textual

A raposa andava maluca para pegar o gato. Mas ela sabia como todo mundo sabe, que o gato é o maior mestre pulador e nem adiantava tentar agarrá-lo. Com um salto de banda, o danado sempre se safava. Decidiu então a raposa usar da esperteza. Chegou-se para o gato e propôs a paz: - Chega de correr atrás um do outro, mestre gato. Vamos agora viver em paz! - Não é bem assim, comadre raposa - corrigiu o gato. - Não é um que corre atrás do outro, é uma que corre atrás do outro,é a "uma", que é a senhora, que corre atrás do "outro", que sou eu... - Bom, de qualquer forma, vamos fazer as pazes, amigo gato. Como o senhor é mestre em pulos, proponho que, para celebrar nosso acordo de amizade, o senhor me dê um curso de pulos, para eu ficar tão puladora como o senhor. Pago-lhe cada lição com os mais saborosos filés de rato que o senhor já experimentou! O gato aceitou e começaram as lições no mesmo dia. A raposa era aluna dedicada e o gato ótimo professor. Ensinou o salto de banda, o salto em espiral, a cambalhota simples, a cambalhota-com-pirueta, o duplo-mortal, o triplo-mortal e até o saca-rolha-composta. A raposa todos eles aprendia, praticava depois das aulas e, logo, já estava tão mestre em pulos quanto o gato. Decidiu então que já era chegada a hora de colocar em prática seu plano sinistro. No começo de outra aula, esgueirou-se por trás do gato e deu um bote, caprichando no salto mais certeiro que o mestre lhe tinha ensinado! E o gato? Deu um volteio de banda, rolou no ar, e a raposa passou chispando por ele, indo esborrachar-se num toco de aroeira. Ainda tonta da queda, a raposa voltou-se para o gato e protestou: - Mas mestre gato, esse pulo o senhor não me ensinou!
-Não ensinei, nem ensino! -riu-se o gato. -Esse é o segredo que me salva de malandros como a senhora, comadre raposa. Esse é o pulo do gato!
BANDEIRA,Pedro. Nova Escola,nº48.


Interpretação
1-“com um salto de banda, o danado sempre se safava.”

A palavra abaixo que tem o mesmo significado da expressão sublinhada é:
A( ) exibia B( ) livrava.
C( ) prejudicava. D( ) esborrachava.

2- De acordo com o texto, a raposa fez ao gato a seguinte proposta:
A( ) viver em paz.
B( ) brigar para sempre.
C( ) dividir os filés de rato.
D( ) viver cada um no seu canto.

3- O texto mostra que tanto a raposa, quanto o rato sempre demonstraram ser:
A( ) lentos.
B( ) amigos.
C( ) espertos.
D( ) medrosos.

4- A raposa tornou-se aluna do gato para:
A( ) distrair-se com ele.
B( ) fazer as pazes com ele.
C( ) brincar, pois se sentia sozinho.
D( ) conseguir uma chance de devora-lo.

5- O plano da raposa fracassou porque ela:
A( ) confiou demais em sua esperteza.
B( ) era uma aluna desatenciosa.
C( ) errou os pulos ensinados.
D( ) agiu sem pensar.

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O MACACO DE ÓCULOS

Um macaco, que se achava muito esperto e inteligente, estava ficando velho e já não enxergava muito bem.
Preocupado com isso, resolveu usar sua esperteza e saber o que os homens fazem quando ficam velhos e já não enxergam bem.
Conversando com alguns, descobriu que era preciso usar óculos. Arranjou seis pares de óculos para não correr o risco de um só não dar certo.
Pendurou um no pescoço, outro no rabo, um na cabeça, outro na nuca, um no pé, um outro na mão... mas nada! Continuava sem enxergar. Cheirou, lambeu, mudou as posições e não conseguiu nenhum resultado.
Continuava enxergando mal, o macaco, então pensou que estava sendo enganado pelos homens. Ficou furioso!
Pegou seus pares de óculos, jogou-os no chão e pisou em cima.
Coitado! Continuou sem enxergar!

Responda as questões a seguir:

1- O personagem da história é:
( ) Um macaco que se achava muito esperto ( ) Um macaco amigo dos homens
( ) Um macaco muito jovem

2- 2- O macaco não enxergava bem porque
( ) Estava doente ( ) Estava ficando velho ( ) Estava com os olhos machucados

3- Para descobrir como enxergar melhor, o macaco foi conversar com:
( ) Alguns homens ( ) Alguns animais ( ) Alguns macacos
4-
4- Em quais lugares do corpo, o macaco pendurou os óculos?

5-Numere as ações do macaco de acordo com a ordem em que aparecem no texto.
( ) Lambeu os óculos ( ) Jogou os óculos no chão
( ) Cheirou os óculos ( ) Mudou os óculos de posição

6- O macaco pensou que estava sendo enganado pelos homens.
Ser enganado é o mesmo que:
( ) Ser amado ( ) Ser traído ( ) Ser ajudado

7- “Só podia ser engraçado, macaco botar óculos no rabo”
Na frase acima, a palavra botar significa:
( ) Calçar ( ) Vestir ( ) Colocar

8- O macaco enxergava muito mal. O contrário da palavra sublinhada é ________________

9- De acordo com o texto, o macaco era:
( ) Doce ( ) Esperto ( ) Velho

10- Copie a frase abaixo, passando a para o plural.
O homem bondoso ajudou o macaco.

11- Usando uma das palavras dos parênteses, complete a frase corretamente.
O macaco ___________ peludo. ( é – são )
Nós ___________ muito de animais. ( gosta – gostamos )
Os macacos __________ enxergando mal. ( está – estão )

12- Faça uma ilustração relacionada com o texto.

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O burro que vestiu a pele de um leão - Esopo

Um burro encontrou uma pele de leão que um caçador tinha deixado largada na floresta. Na mesma hora o burro vestiu a pele e inventou a brincadeira de se esconder numa moita e pular fora sempre que passasse algum animal. Todos fugiam correndo assim que o burro aparecia. O burro estava gostando tanto de ver a bicharada fugir dele correndo que começou a se sentir o rei leão em pessoa e não conseguiu segurar um belo zurro de satisfação. Ouvindo aquilo, uma raposa que ia fugindo com os outros parou, virou-se e se aproximou do burro rindo:
– Se você tivesse ficado quieto, talvez eu também tivesse levado um susto. Mas aquele zurro bobo estragou sua brincadeira!
Moral: Um tolo pode enganar os outros com o traje e a aparência, mas suas palavras logo irão mostrar quem ele é de fato.
(ASH, Russel; HIGTON, Bernard (Comp.). Fábulas de Esopo. Tradução Heloisa Jahn. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1994. p. 70.)

01. No trecho “Mas aquele zurro bobo estragou sua brincadeira”, a palavra sublinhada refere-se à brincadeira
(A) do burro.
(B) do caçador.
(C) do leão.
(D) da raposa.

02. O burro “não conseguiu segurar um belo zurro de satisfação” quer dizer que o burro soltou um som de
(A) alegria.
(B) desânimo.
(C) dúvida.
(D) espanto.

03. Para entender o texto, é preciso saber que o burro é um animal
(A) bravo.
(B) esperto.
(C) tolo.
(D) fero

04. O burro assustou os bichos quando
(A) encontrou uma pele de leão.
(B) estragou a pele de um leão.
(C) segurou a pele de um leão.
(D) vestiu a pele de um leão.

05. Todos os bichos fugiam correndo porque tinham medo de
(A) burro.
(B) caçador.
(C) leão.
(D) raposa


06. O ponto de exclamação em "Mas aquele zurro bobo estragou sua brincadeira!" indica que a
raposa está
(A) chorosa.
(B) gozadora.
(C) irritada.
(D) quieta.

7) Que tipo de texto é este? Justifique.

8) Quais são os personagens que participam dela?

9) Qual foi a brincadeira que o burro resolveu fazer?

10) Como o burro começou a se sentir ao ver que toda a bicharada corria dele?

11) Explique a frase: “Não conseguiu segurar um belo zurro de satisfação”. E quem foi que falou isso?

12) Como a raposa descobriu a farsa do burro?

13) Por que todos os bichos fugiam correndo?

14) Você achou o burro esperto? Justifique.

15) O que conta a história?

16) Explique o que você entendeu da moral.

17) Que tipo de narrador tem o texto? Explique.

18) Onde se passa a história?

19) Através do texto dá para imaginar as características psicológicas dos personagens. Caracterize:
a) O burro.
b) A raposa.

Contos de assombração com interpretação textual

O MÉDICO FANTASMA

Esta história tem sido contada de pai para filho na cidade de Belém do Pará. Tudo começou numa noite de lua cheia de um sábado de verão.
Dois garotos conversavam sentados na varanda da casa de um deles.
— Você acredita em fantasma? — perguntou o mais novo.
— Eu não! — disse o outro.
— Acredita sim! — insistiu o mais novo.
— Pode apostar que não — replicou o outro.
— Tudo bem. Aposto minha bola de futebol que você não tem coragem de entrar no cemitério à noite.
— Ah, é? — disse o garoto que fora desafiado. Pois então vamos já para o cemitério, que eu vou provar minha coragem.
Assim, os dois garotos foram até a rua do cemitério. O portão estava fechado. O silêncio era profundo. Estava tão escuro... Eles começaram a sentir medo.
Para ganhar a aposta, era preciso atravessar a rua e bater a mão no portão do cemitério. O garoto que tinha topado o desafio correu. Parou na frente do portão e começou a fazer careta para o amigo. Depois se encostou ao portão e tentou bater a mão nele. Foi quando percebeu que ela estava presa.
— Socorro! Alguém me ajude! — ele gritou, desmaiando em seguida.
Nisso apareceu um velhinho vindo do fundo do cemitério, abriu o portão e chamou o outro menino.
— Seu amigo prendeu a manga da camisa no portão e desmaiou de medo. Coitadinho, pensou que algum fantasma o estivesse segurando.
O garoto reparou que o velhinho era muito magro, quase transparente.
— Obrigado. Como é que o senhor se chama?
— Eu sou o médico daqui. Vou acordar seu amigo.
O velhinho passou a mão na cabeça do menino desmaiado e ele despertou na mesma hora.
— Vão pra casa, meninos — ele disse. Já passou da hora de dormir.
E foi assim que os meninos perceberam que tinham conhecido um fantasma e entenderam que não precisavam ter medo de fantasmas, pois esses, apesar de misteriosos, são do bem.

Heloísa Prieto. “Lá vem história outra vez: contos do folclore mundial”. São
Paulo. Cia das letrinhas, 1997 (texto adaptado para fins didáticos).


INTERPRETANDO O TEXTO

1) Assinale a alternativa correta: (0,25x4=1,0)
a) No início do texto, onde estavam os personagens?
( )Os garotos estavam na escola, brincando no recreio.
( )Os garotos estavam na porta do cemitério.
( ) Os garotos estavam sentados na varanda na casa de um deles.

b) Por que os meninos decidem ir ao cemitério?
( ) Para acompanhar um enterro.
( ) Devido a uma aposta que fizeram valendo uma bola de futebol.
( ) Devido a uma aposta que fizeram valendo uma bola de basquete.

c) O que era necessário para ganhar a aposta?
( ) Atravessar a rua e bater a mão no portão do cemitério.
( ) Atravessar a rua e entrar no cemitério.
( ) Atravessar a rua e chamar pelos fantasmas pelo portão do cemitério.

d) Depois de se encostar no portão, o que aconteceu ao garoto?
( ) Sua mão ficou presa no portão, mas ele conseguiu se soltar rapidamente.
( ) Sua mão ficou presa, ele gritou e desmaiou em seguida.
( ) Sua mão ficou presa, ele ficou mudo e desmaiou em seguida.

2) O médico fantasma é uma história sobre medo, um “Conto de assombração”. Descreva o momento mais assustador da história.

3) Você ficou com medo? Por quê?

4) Como os meninos perceberam que o velhinho era um fantasma?

5) Por que será que o desafio era ter que ir ao cemitério à noite? Você aceitaria este desafio? Por quê?

Produção textual

6) Você já passou por uma situação assustadora? Era um medo real ou imaginário? Conte aqui a sua história.
Se você não passou por nenhuma história assustadora, crie uma história.

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O homem que enxergava a morte

Era um homem pobre. Morava num casebre com a mulher e seis filhos pequenos. O homem vivia triste e inconformado por ser tão miserável e não conseguir melhorar de vida.
Um dia, sua esposa sentiu um inchaço na barriga e descobriu que estava grávida de novo. Assim que o sétimo filho nasceu, o homem disse à mulher:
– Vou ver se acho alguém que queira ser padrinho de nosso filho.
Vestiu o casaco e saiu de casa com ar preocupado. Temia que ninguém quisesse ser padrinho da criança recém-nascida. Arranjar padrinho para o sexto filho já tinha sido difícil. Quem ia querer ser compadre de um pé-rapado como ele?
E lá se foi o homem andando e pensando e quanto mais pensava mais andava inconformado e triste. Mas ninguém consegue colocar rédeas no tempo.
O dia passou, o sol caiu na boca da noite e o homem ainda não tinha encontrado ninguém que aceitasse ser padrinho de seu filho. Desanimado, voltava para casa, quando deu com uma figura curva, vestindo uma capa escura, apoiada numa bengala. A bengala era de osso.
– Se quiser, posso ser madrinha de seu filho – ofereceu-se a figura, com voz baixa.
– Quem é você? – perguntou o homem.
– Sou a Morte.
O homem não pensou duas vezes:
– Aceito. Você sempre foi justa e honesta, pois leva para o cemitério todas as pessoas, sejam elas ricas ou pobres. Sim – continuou ele com voz firme –, quero que seja minha comadre, madrinha de meu sétimo filho!
E assim foi. No dia combinado, a Morte apareceu com sua capa escura e sua bengala de osso. O batismo foi realizado. Após a cerimônia, a Morte chamou o homem de lado.
– Fiquei muito feliz com seu convite – disse ela. – Já estou acostumada a ser maltratada. Em todos os lugares por onde ando as pessoas fogem de mim, falam mal de mim, me xingam e amaldiçoam. Essa gente não entende que não faço mais do que cumprir minha obrigação. Já imaginou se ninguém mais morresse no mundo? Não ia sobrar lugar para as crianças que iam nascer! Na verdade – confessou a Morte –, você é a primeira pessoa que me trata com gentileza e compreensão.
E disse mais:
– Quero retribuir tanta consideração. Pretendo ser uma ótima madrinha para seu filho.
A Morte declarou que para isso transformaria o pobre homem numa pessoa rica, famosa e poderosa.
– Só assim – completou ela –, você poderá criar, proteger e cuidar de meu afilhado.
O vulto explicou então que, a partir daquele dia, o homem seria um médico.
– Médico? Eu? – perguntou o sujeito, espantado. Mas eu de Medicina não entendo nada!
– Preste atenção – disse ela.
Mandou o homem voltar para casa e colocar uma placa dizendo-se médico. Daquele dia em diante, caso fosse chamado para examinar algum doente, se visse a figura dela, a figura da Morte, na cabeceira da cama, isso seria sinal de que a pessoa ia ficar boa.
– Em compensação – rosnou a Morte –, se me enxergar no pé da cama, pode ir chamando o coveiro, porque o doente logo, logo vai esticar as canelas.
A Morte esclareceu ainda que seria invisível para as outras pessoas.
– Daqui pra frente – concluiu a famigerada –, você vai ter o dom de conseguir enxergar a Morte cumprindo sua missão.
Dito e feito.
O homem colocou uma placa na frente de sua casa e logo apareceram as primeiras pessoas adoentadas.
O tempo passava correndo feito um rio que ninguém vê.
Enquanto isso, sua fama de médico começou a crescer.
É que aquele médico não errava uma.
O doente podia estar muito mal e já desenganado. Se ele dizia que ia viver, dali a pouco o doente estava curado.
Em outros casos, às vezes a pessoa nem parecia muito enferma. O médico chegava, olhava, examinava, coçava o queixo e decretava:
– Não tem jeito!
E não tinha mesmo. Não demorava muito, a pessoa sentia-se mal, ficava pálida e batia as botas.
A fama do homem pobre que virou médico correu mundo. E com a fama veio a fortuna. Como muitas pessoas curadas costumavam pagar bem, o sujeito acabou ficando rico.
Mas o tempo é um trem que não sabe parar na estação.
O sétimo filho do homem, o afilhado da Morte, cresceu e tornou-se adulto.
Certa noite, bateram na porta da casa do médico. Dessa vez não era nenhum doente pedindo ajuda. Era uma figura curva, vestindo uma capa escura, apoiada numa bengala feita de osso. A figura falou em voz baixa:
– Caro compadre, tenho uma notícia triste: sua hora chegou. Seu filho já é homem feito. Estou aqui para levar você.
O médico deu um pulo da cadeira.
– Mas como! – gritou. – Fui pobre e sofri muito. Agora que tenho uma profissão, ajudo tantas pessoas, tenho riqueza e fartura, você aparece pra me levar! Isso não é justo!
A Morte sorriu.
– Vá até o espelho e olhe para si mesmo – sugeriu. – Está velho. Seu tempo já passou.
Mas o médico não se conformava. E argumentou, e pediu, e suplicou tanto que a Morte resolveu conceder mais um pouquinho de tempo.
– Só porque somos compadres, só por ser madrinha de seu filho, vou lhe dar mais um ano de vida – disse ela antes de sumir na imensidão.
O velho médico continuou a atender gente doente pelo mundo afora.
Um dia, recebeu um chamado. Era urgente. Uma moça estava gravemente enferma. Disseram que seu estado era desesperador. O homem pegou a maleta e saiu correndo. Assim que entrou no quarto da menina enxergou, parada ao pé da cama, a figura sombria e invisível da Morte, pronta para dar o bote.
O médico sentou-se na beira da cama e examinou a moça. Era muito bonita e delicada. O homem sentiu pena. Uma pessoa tão jovem, com uma vida inteira pela frente, não podia morrer assim sem mais nem menos. "Isso está muito errado", pensou o médico, e tomou uma decisão. "Já estou velho, não tenho nada a perder. Pela primeira vez na vida vou ter que desafiar minha comadre." E rápido, de surpresa, antes que a Morte pudesse fazer qualquer coisa, deu um jeito de virar o corpo da menina na cama, de modo que a cabeça ficou no lugar dos pés e os pés foram parar do lado da cabeceira. Fez isso e berrou:
– Tenho certeza! Ela vai viver! E não deu outra. Dali a pouco, a linda menina abriu os olhos e sorriu como se tivesse acordado de um sonho ruim.
A família da moça agradeceu e festejou. A Morte foi embora contrariada, e no dia seguinte apareceu na casa do médico.
– Que história é essa? Ontem você me enganou!
– Mas ela ainda era uma criança!
– E daí? Aquela moça estava marcada para morrer ¬disse a Morte. – Você contrariou o destino. Agora vai pagar caro pelo que fez. Vou levar você no lugar dela!
O médico tentou negociar. Disse que queria viver mais um pouco.
– Nós combinamos um ano – argumentou ele.
– Nosso trato foi quebrado. Não quero saber de nada – respondeu a Morte. – Venha comigo!
– Lembre-se de que até hoje eu fui a única pessoa que tratou você com gentileza e consideração!
A Morte balançou a cabeça.
– Quer ver uma coisa? – perguntou ela.
E, num passe de mágica, transportou o médico para um lugar desconhecido e estranho. Era um salão imenso, cheio de velas acesas, de todas as qualidades, tipos e tamanhos.
– O que é isso? – quis saber o velho.
– Cada vela dessas corresponde à vida de uma pessoa – explicou a Morte. As velas grandes, bem acesas, cheias de luz, são vidas que ainda vão durar muito. As pequenas são vidas que já estão chegando ao fim. Olhe a sua.
E mostrou um toquinho de vela, com a chama trêmula, quase apagando.
Mas então minha vida está por um fio! – exclamou o homem assustado. – Quer dizer que tudo está perdido e não resta nenhuma esperança?
A Morte fez "sim" com a cabeça. Em seguida, transportou o médico de volta para casa.
– Tenho um último pedido a fazer – suplicou o homem, já enfraquecido, deitado na cama. – Antes de morrer, gostaria de rezar o Pai-Nosso.
A Morte concordou.
Mas o velho médico não ficou satisfeito.
– Quero que me prometa uma coisa. Jure de pé junto que só vai me levar embora depois que eu terminar a oração. A Morte jurou e o homem começou a rezar:
– Pai-Nosso que...
Começou, parou e sorriu.
– Vamos lá, compadre – grunhiu a Morte. – Termine logo com isso que eu tenho mais o que fazer.
– Coisa nenhuma! – exclamou o médico saltando vitorioso da cama. – Você jurou que só me levava quando eu terminasse de rezar. Pois bem, pretendo levar anos para acabar minha reza...
Ao perceber que tinha sido enganada mais uma vez, a Morte resolveu ir embora, mas antes fez uma ameaça:
– Deixa que eu pego você!
Dizem que aquele homem ainda durou muitos e muitos anos. Mas, um dia, viajando, deu com um corpo caído na estrada. O velho médico bem que tentou, mas não havia nada a fazer.
– Que tristeza! Morrer assim sozinho no meio do caminho! Antes de enterrar o infeliz, o bom homem tirou o chapéu e rezou o Pai-Nosso.
Mal acabou de dizer amém, o morto abriu os olhos e sorriu. Era a Morte fingindo-se de morto.
– Agora você não me escapa!
Naquele exato instante, uma vela pequena, num lugar desconhecido e estranho, estremeceu e ficou sem luz.
AZEVEDO, Ricardo. Contos de enganar a Morte. São Paulo: Ática, 2003.
O conto tem, em sua construção, uma maneira diferente de nomear e caracterizar as personagens que fazem parte da história narrada. Com base no conto “O Homem que enxergava a Morte”, responda:

1. Em relação ao espaço e ao tempo da narrativa, no texto de Ricardo Azevedo ou em qualquer outro conto de assombração é possível saber quando e onde a história narrada acontece? Por quê?

2. No conto de Ricardo Azevedo, a personagem principal tenta enganar a Morte para continuar vivendo por mais tempo. Como o homem consegue enganá-la? Explique.

3. Com base na leitura do texto, assinale as alternativas verdadeiras (V) ou falsas (F) que interpretam de forma adequada as informações presentes no conto “O homem que enxergava a morte”.
()Ocorre o pacto entre a Morte e o humilde homem.
()O sucesso profissional do homem que enxergava a morte percorre o mundo.
()São apresentadas Informações sobre a vida do homem e de como era a sua família.
()Quando nasce o oitavo filho do homem, ele resolve escolher a morte como madrinha da criança.
()Uma figura curva, vestindo uma capa escura, apoiada numa bengala feita de osso, foi buscar o homem para levá-lo com ela.
()A Morte dá instruções ao homem sobre como atuar na profissão de advogado.
()O encontro do homem com a Morte foi interrompido pela mulher do homem.

4.Mesmo tratando de um tema tão arrepiante como é a morte, Ricardo Azevedo consegue ser engraçado. Por que podemos dizer que há humor no conto “O Homem que enxergava a Morte”? Explique.

5.O que você achou mais interessante a respeito dos contos de assombração? Explique.

6.Sobre o gênero textual “Contos de assombração”, marque com um X somente nas alternativas corretas.

() As personagens, normalmente, são fantasmas, monstros, caveiras e outros seres assombrosos
()Os contos de assombração são histórias verdadeiras.
()O narrador participa da história.
()O texto apresenta uma moral que fica no final da história.
()O tempo em que se passa a história é indeterminado.
()Vários contos de assombração possuem características próprias de uma região e geralmente são histórias contadas por pessoas mais velhas.

A semana (São Paulo, 1922) - texto de Célia A. N. Passoni com interpretação


A Semana (São Paulo, 1922)

A Semana de Arte Moderna foi realizada nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro. A inauguração (dia 13) da Semana contou com a conferência do acadêmico Graça Aranha e com a execução de números musicais por Villa- Lobos, Guiomar Novaes, Alfredo Gomes, Paulina D”Ambrósio, entre outros, e foi recebida sem hostilidade. No entanto, a sessão do dia 15 foi tumultuada, principalmente no momento em que Ronald de ?Carvalho recitou “Sapos”, poema enviado por Manuel Bandeira. Vaias ruidosas soaram quando Mário de Andrade declamou seus versos de “Ode ao burguês”. O público preparado para um “festival de vaias” compareceu em massa à última noite, que contou, principalmente, com números musicais. Segundo se lê no jornal O Estado de S. Paulo:

“ Semana Futurista – felizmente foram vingados os brios paulistas. Na última pagoderia da Semana futurista, foi
preciso fechar as galerias para evitar que o palco se enchesse de batatas. Mesmo, porém, com as galerias interditas, a coisa se convertia em enorme pateada, se houvesse um dos tais discursos nefelibatas e sem nexo como os das noites anteriores. A plateia estava preparada para os receber como mereciam. Na última noite só música e não é contra esta que nos revoltamos.”

A Semana foi um reforço diante do público. Apresentaram-se escritores com tendências novas que procuraram lançar uma nova visão de mundo, abrindo caminhos diferentes para a arte brasileira.
O modernismo foi um movimento unicamente do Brasil e, como acontecia à Arte de até então, continuamos recebendo influência da vanguarda estrangeira. De novo, a Europa nos mandou sua contribuição, mas, pela primeira vez, com muito menor influência, sem o caráter de coisa a ser imitada. O grande mérito do movimento que nascia em 1922 foi ter a consciência da necessidade de se buscar um nacionalismo mais autêntico e mais crítico.
Propostas
Os objetivos da Semana de Arte Moderna, na verdade, são os objetivos do próprio Modernismo, cujos pontos mais importantes são:
• contra o passadismo – como diz Aníbal Machado: “Não sabemos definir o que queremos mas sabemos discernir o que não queremos”;
• contra a rigidez forma, o hermetismo, o culto de rimas, o verso perfeito dos parnasianos: coloquial, mais próxima da linguagem falada;
• contra o tradicional e o acadêmico;
• seguindo fundamentalmente três preceitos:
- direito à pesquisa;
- estabelecimento de uma consciência nacional;
- atualização da inteligência artística brasileira.

PASSONI, Célia A. N. (org.). Modernismo no Brasil: 1922 a 1930. 1. ed. São Paulo: Núcleo, 1988.

Vocabulário:

pagodeira (s.f.): brincadeira, festa ruidosa.
interdito (adj.): atingido por interdição.
panteada (s.f.): manifestação de desagrado ou de reprovação, feita com os pés a bater no chão.
vanguarda (s,f,): dianteira, que sai à frente.
passadismo (s.m.): culto ao passado.
classicizante (adj.): que se rege por padrões de moderação e equilíbrio que se manifestam numa preocupação pela perfeição da forma baseada no predomício da ideia de conjunto. nefelibata (adj.): (nuvem que anda), característica de quem anda nas nuvens; literato que desconhece ou despreza os processos conhecidos e o bom senso literário, que se afasta das características consagradas na literatura.
parnasiano (adj.): característica de quem cultua a forma.
hermetismo (s.m.): caráter de que é fechado, difícil de ser compreendido.
oratória (s.f.): arte de falar ao público com eloquência.

* se desconhecer mais alguma palavra do texto, procure seu significado no dicionário

Questões de interpretação textual

1. Que artes foram mostradas durante a Semana?

2. Segundo o texto:

... continuamos recebendo influências da vanguarda estrangeira. De novo, a Europa nos mandou sua contribuição, mas, pela primeira vez, com muito menor influência, sem o caráter de coisa a ser limitada. O grande mérito do movimento que nascia em 1922 foi ter consciência da necessidade de se buscar um nacionalismo mais autêntico e mais crítico.

a) O que mudou quanto às influências recebidas?

b) O que é possível entender por “ter a consciência da necessidade de buscar um nacionalismo mais autêntico e mais crítico”?

3. Que objetivo tem o texto?

4. Como o texto faz a citação de outro texto?

5. Em que pessoa é narrado o texto? Porquê?

Pronome relativo

1.Vou tentar tantas vezes quantas forem necessárias até atingir meu objetivo.
Identifique o pronome relativo da frase acima.
( ) não há pronome relativo ( ) tantas ( ) meu ( ) quantas

2. Assinale a questão que tem as orações unidas por meio de um pronome relativo.
( ) No show, tocaram muitas músicas. Os compositores das músicas eram os integrantes da banda.
No show, tocaram muitas músicas cujos compositores eram os integrantes da banda.
( ) Não esperei que ela voltasse. Fui-me embora logo.
Não esperei que ela voltasse, resolvi ir embora logo.
( ) Quero te tencontrar. Quando isso acontecer, conto as novidades.
Quero te encontrar para contar as novidades.
( ) Não descobri seu desempenho na prova. A professora não falou sobre as notas.
Não descobri seu desempenho na prova porque a professora não falou sobre as notas.

3. Quando o conectivo que substitui um termo já expresso na oração anterior, ele é chamado de pronome relativo. Indique em qual oração isso acontece.
( ) Que que tem na sopa do neném? Será que tem espinafre? (Sopa - Sandra Peres)
( )Olha que coisa mais linda / Mais cheia de graça... (Garota de Ipanema - Antônio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes)
( ) Meu tesouro é uma viola / Que a felicidade oculta (Dindinha - Zeca Baleiro)
( ) Um cisco no olho, ela em vez de assoprar, sem dó / Falou que por ela eu podia cegar (Incompatibilidade de Gênios - João Bosco e Aldir Blanc)

4. O Dj precisa das músicas. Os convidados trouxeram as músicas.
A sequência acima, empregando o uso de um pronome relativo, continuaria com o mesmo sentido se assim fosse reescrita:
( ) O Dj precisa das músicas que os convidados trouxeram.
( )Os convidados precisam das músicas trazidas pelo Dj.
( ) Músicas e convidados: tudo o que o Dj precisava.
( ) O Dj pediu as músicas que os convidados trouxeram

Crônica: O nariz - com interpretação textual (indicada para 7º ano)


1. A crônica discute vários aspectos da vida social moderna; contudo, um deles se destaca. Das palavras seguintes, qual traduz o assunto central do texto?

( ) comportamento ( ) moda ( ) casamento ( ) beleza

2. As frases a seguir expressam a reação da esposa e da filha diante do comportamento do dentista:


a) De uma frase para outra, nota-se que o narrador, para demonstrar o processo de irritação da esposa e da filha, empregou o recurso da gradação. Esse recurso consiste em criar um movimento crescente e decrescente, que acontece aos poucos em graus. Comparando as partes destacadas nas frases, observa-se uma gradação crescente ou decrescente?

b) A partir de que momento o comportamento bem-humorado da mãe e da filha começa a se modificar?

3. O mundo do dentista, até o episódio do nariz postiço, resumia-se a dois elementos básicos: a família (esposa e filha) e a profissão (incluindo aí seus clientes e sua secretária).

a) Que comportamento têm essas pessoas quando ele insiste em agir de modo diferente?

b) De modo geral, tal qual ocorreu no caso do dentista, pode-se dizer que a sociedade reserva um único destino a todos aqueles que ousam ser diferentes. Qual é esse destino?

4. A esposa suspeita que o marido tenha enlouquecido, os amigos o aconselham a procurar um psiquiatra. O psiquiatra conclui que ele está bem, apesar de apresentar um “comportamento estranho”.

a) Que argumentos contrários o dentista apresenta diante da opinião do psiquiatra sobre seu comportamento?

b) No final da crônica, o narrador afirma que o dentista continua a usar o nariz: “agora não é mais uma questão de nariz. Agora é uma questão de princípios”. Qual é a diferença entre uma questão de nariz e uma questão de princípios?

Verbo

1. É claro que devemos ter muito cuidado com a água no nosso planeta, pois ela só nos serve limpa, e se continuarmos a poluir as nossas reservas, poderemos enfrentar problemas econômicos, como o encarecimento do custo de tratamento da água para as nossas populações.

Disponível em: Acesso em: 04 jan. 2010

No texto acima, qual outra forma verbal pode substituir a conjugação "poderemos" sem alterar o sentido da oração?
( ) posso ( ) poderá ( ) poderíamos ( ) vamos poder

2."Os números mostram uma verdadeira revolução. Para se ter uma ideia, o rádio levou 38 anos para alcançar 50 milhões de usuários. A TV levou 13. A Internet, quatro anos. O Facebook adicionou 100 milhões de usuários em menos de nove meses. Aliás, se o Facebook fosse um país, seria o terceiro maior do mundo."

Disponível em: Acesso em: 06 jan. 2011

Indique uma forma de trocar o tempo verbal da última frase (seria) sem alterar seu sentido.
( ) isso não é possível. ( ) será ( ) foi ( ) seja

3. Se gostasse dela como dizia, não a ... naquela situação tão desagradável.

Complete a frase utilizando o verbo deixar, na terceira pessoa do singular, do futuro do pretérito.
( ) deixava ( ) deixaria ( ) deixou ( ) deixa

4. Sei que ainda vou precisar falar com ele, por isso não joguei o número fora. Quando for oportuno, ligarei.

Assinale as alternativas que se referem corretamente aos verbos das orações acima.
( ) sei - presente do indicativo ( ) vou precisar - locução verbal
( ) ligarei - futuro do presente

5. Algumas vezes um fato futuro depende de uma condição. Assinale a frase que representa essa circunstância.
( ) Se soubesse disso, eu iria com você.
( ) Iremos depois das cinco horas.
( ) Só vou à praia bem cedinho.
( ) Eu vou escrever o texto quando a aula terminar.

Anúncio Publicitário com questões de interpretação


1. Os anúncios são dirigidos a um público-alvo.
a) Qual é o público-alvo do núncio?
b) Como você chegou a essa conclusão?

2. Identifique no texto:
a) o produto oferecido:
b) há quantos anos o produto é ofertado?

3. Por que aparece no texto o nome Eduardo Guedes? Explique qual é a importância dessa informação?

4. Qual palavra do anúncio pode ser lida de duas formas diferentes?

5. Qual é a ambiguidade presente no anúncio?



1. Esse anúncio vende um produto ou um serviço? Aponte os elementos desse texto que comprovam a sua resposta.

2. Que tal pesquisar outro anúncio que seja dirigido ao público infantil? Se possível, depois de selecionar esse texto, recorte-o e cole-o no seu caderno, apresentando aos seus colegas.

Um slogan é uma curta mensagem usada como uma identificação de fácil memorização de um produto ou serviço. Ele funciona como um complemento da mensagem apresentada por uma determinada marca. Quando a marca é muito divulgada, seu slogan passa a ter um poder hipnótico, como o do Nescau, por exemplo, “A energia que dá gosto”. Note que o slogan precisa ser coerente com o produto, e também acrescentar sua característica mais importante. No slogan da Nescau, a característica ressaltada é o fato de esse produto ter em sua composição vitaminas que dão energia, além, é claro, de dar mais sabor ao leite.

Substantivos

1. Assinale os substantivos da frase "Brasil, um país de todos" (marque quantas alternativas achar necessário).

( ) Brasil ( ) um ( ) país ( ) de


2. Marque a alternativa que não apresenta substantivo.

( ) gostei ( ) cachorro ( ) cinema ( ) filme


3. Quais são os substantivos existentes na seguinte frase:

Quando durmo pouco, passo o dia inteiro com sono, parece que meus olhos vão fechar a qualquer momento.

( ) dia, sono, olhos ( ) durmo, inteiro, olhos
( ) pouco, sono, qualquer ( ) durmo, olhos, fechar


4. O grau de um substantivo pode variar. É o que se vê em palavras como casinha, bocarra, portão, chuvisco. Quando isso ocorre, o substantivo pode ser:

( ) abstrato ou derivado ( ) comum ou próprio
( ) diminutivo ou aumentativo ( ) primitivo ou derivado


5. Assinale o substantivo próprio:

( ) Google ( ) portal ( ) página ( ) escola

6. Substantivos abstratos são aqueles que:

( ) designam seres imaginários.
( ) dão características aos seres.
( ) nomeiam sentimentos e qualidades.
( ) designam seres reais.


7. Assinale a frase que contém um substantivo concreto:

( ) Ele estava louco de ciúme.
( ) Não aguentava mais ficar acordado, pegou seu gnomo e foi dormir.
( ) O amor é capaz de coisas fantásticas.
( ) O que ela sentia era paixão verdadeira.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Noite na taverna (Álvares Azevedo) - Análise da professora Célia A. N. Passoni


NOITE NA TAVERNA
(Álvares de Azevedo )

Análise da professora Célia A. N. Passoni
Sistema de Ensino Etapa
http://www.etapa.com.br

Em 1853-1855, surgiram a edição póstuma que recolheu as publicações esparsas de Álvares de Azevedo sob o título de Poesias. Foram sendo acrescentadas às sucessivas reedições, obras em prosa, cujos exemplos mais destacados são: Macário, narração dialogada. Próxima de escritos teatrais, e Noite na Taverna, coletânea de narrativas curtas que constitui a mais original produção de prosa de Álvares de Azevedo, ao mesmo tempo é a mais bem-sucedida obra em que se destaca a influência do clima romântico imposto pelo poeta inglês Lorde Byron.
Movido pela imaginação exacerbada, o volume apresenta os desvarios do poeta envolvido por uma conturbação febril, na qual se deixa influenciar por quase todas as grandes características das novelas mórbidas do século XIX. Visivelmente artificiais, as narrativas que constituem o cerne desta obra recebem certa dose de magia e coerência por envolver o leitor, prender-lhe a atenção, dirigi-lo ao final. E se as histórias relatadas não são verossímeis, pelo menos disfarçam suas incoerências pela atração com que o autor conduz sua imaginação, de modo que quase parecem reais, colocando-as envolvidas por uma onda infindável de orgias deboches, sátiras, paixões transfiguradas, relatadas pela pequena galeria de personagens boêmios que vão tomando a palavra. Das páginas de Noite na Taverna vão surgindo relatos impregnados de um clima inumano e anormal.
A indefinição percorre as páginas do volume. O leitor que procurar conhecer os limites do tempo e do espaço nada encontrará de seguro ou de definitivo. Os fatos acontecem em alguma taverna, em algum lugar, em algum tempo, tudo muito vago. Só uma coisa parece real: o vinho que enche as taças logo esvaziadas, em rodadas orgíacas de um grupo de jovens, já bastante bêbados, semi-inconscientes. Reunidos, eles contam histórias embaladas por assuntos diversos, mas com um elo comum: todas são trágicas, impregnadas de vícios, de crimes hediondos que vão de assassinatos a incestos, de infanticídios e fratricídios. Todos os casos são repassados de amor, pervertido, cujos pares se envolvem em relações delirantes absurdas e pouco reais.
Composto de sete quadros intitulados: "Uma noite do século", "Solfieri", "Bertram", "Gennaro", "Claudius Hermann", "Johann" e "Último beijo de amor".
O primeiro constitui uma espécie de apresentação do ambiente da taverna, da roda de bebedeira, de devassidão em que se encontram os personagens, do clima notívago e vampiresco. O tom declamatório anuncia a noitada e as histórias que estão por vir.
- Silêncio, moço! Acabai com essas cantilenas horríveis! Não vedes que as mulheres dormem ébrias, macilentas como defuntos? Não sente que o sono da embriaguez pesa negro naquelas pálpebras onde a beleza sigilou os olhares de volúpia?
- Cala-te, Johann! Enquanto as mulheres dormem e Arnold - o loiro - cambaleia e adormece murmurando as canções de orgia de Tieck, que música mais bela que o alarido da saturnal? Quando as nuvens correm negras no céu como um bando de corvos errantes, e alua desmaia como a luz de uma lâmpada sobre a alvura de uma beleza que dorme que melhor noite que a passado ao reflexo das taças?
- És um louco, Bertram! Não é a lua que lá vai macilenta: é o relâmpago que passa e ri de escárnio às agonias do povo que morre aos soluços que seguem as mortualhas da cólera!
As primeiras páginas deixam antever o clima da geração do mal do século, a irreverência incontida, a tendência a divagações literário-filosóficas, a vivência sôfrega e, principalmente, a morbidez e a lascívia.
- Estás ébrio, Johann! O ateísmo é a insânia como o idealismo místico de Schelling, o panteísmo do Spinoza - o judeu, e o histerismo crente de Malebranche nos seus sonhos da visão de Deus. A verdadeira filosofia é o epicurismo. Hume bem o disse: o fim do homem é o prazer. Dai vede que é o elemento sensível quem domina. E, pois ergamo-nos, nós que amarelecemos nas noites desbotadas de estudo insanas, e vimos que a ciência é falsa e esquiva, que ela mente e embriaga como um beijo de mulher.
A vivência que o escritor demonstra é mais cultural que real daí buscar constantemente o reforço nas idéias de filósofos e literatos. De Álvares de Azevedo sabe-se que escreveu todas as suas obras sob o impacto de leituras diversas que vão da Bíblia a Byron, sendo as influências recebidas uma clara demonstração de toda conturbação que sua obra deixa transparecer.
Voltemos à taverna. Entre os "brados" e as taças que circulavam, são apresentados os personagens, e alguns deles tomas a palavra. Em primeira pessoa, relatam histórias pessoais. O primeiro a tomar a palavra é Solfieri que faz suas evocações, remontando-as a Roma, a "cidade do fanatismo e da perdição", onde "na alcova do sacerdote dorme a gosto a amásia, no leito da vendida se pendura o crucifixo lívido". Certa noite, Solfieri vê um vulto de mulher. Segue-a até um cemitério; o vulto desaparece e o personagem adormece sob o frio da noite e a umidade da chuva. A visão deste vulto de uma mulher atordoou o personagem durante um ano, nada o satisfazia na troca de amores com mundanas. Uma noite, depois de prolongada orgia, saio vagando pelas ruas e acaba entre "as luzes de quatro círios" que iluminavam um caixão entreaberto. Lá estava a mulher que lhe provocara tantas alucinações e insônias. Era agora uma defunta. O homem tomou o cadáver em seus braços, despiu-lhe o véu e...
Mas, para disfarçar o caso de necrofilia, a mulher não estava morta, apenas sofrera um ataque e catalepsia. Ao perceber que a mulher não havia morrido, Solfieri levou-a para seu leito, contemplou-a e ela, depois de breve delírio, vaia a falecer. Solfieri mandou fazer uma estátua de cera da virgem, guardou-a em seu quarto, conservou com uma grinalda de flores.
Bertram é o segundo personagem a tomar a palavra. Rapaz de cabeleira ruiva, tez branca que, com as mãos alvas na barba e olhos verdes-mar fixos, pôs a falar de uma mulher o levara a perdição. Cadiz, na Espanha, é o cenário. Enamorado de Ângela, Bertram com elas se casaria se não fosse chamado para a morte do pai. Voltou após algum tempo e reencontrou Ângela, casada e com um filho. Mas o amor de ambos ainda era enorme e tornaram-se amantes. O marido descobriu a traição, quis se vingar, mas Ângela o mata. Com a mesma frieza que matou o marido, assassina o filho:
Sobre o peito do assassinado estava uma criança de bruços. Ela (Ângela) ergueu-a pelos cabelos... Estava morta também: o sangue que corria das veias rotas de seu peito se misturava com o do pai!
Fugiram ambos, numa vida insana, a vagar libertino, até que Ângela partiu, deixando
os lábios ainda queimados doe seus e o coração cheio de verme de vícios que ela aí lançara. Partiu; mas sua lembrança ficou como um fantasma de um mau anjo perto de meu leito.
Para esquecê-la, tornou-se um libertino. Ébrio, machucado, perdido, foi recolhido por um velho e uma jovem de 18 anos. O velho acolheu-o, a jovem amou-o e por ele se perdeu. Fugiram. Confessa Bertram que se enjoou da mulher e
uma noite em que eu jogava com Siegfried - o pirata, depois de perder as últimas jóias dela, vendi-a. A moça envenenou Siegfried logo na primeira noite e afogou-se..."
Bertram se envolve em outra aventura. Após querer se matar, é salvo por um bondoso comandante. Em troca da acolhida, apaixonou-se pela mulher do benfeitor e teve seu amor retribuído. Mas o navio foi atacado por piratas e após sangrentas batalhas foi reduzido a uma jangada perdida no mar com quatro ocupantes além do narrador: o comandante, sua mulher e dois marinheiros. A comida tornava-se escassa e...
Dois dias depois de acabados os alimentos restavam três pessoas: eu, o comandante e ela.
Cumpria-se a lei do náufrago, a antropofagia. Mais um deveria morrer. Fez-se um sorteio e o comandante perdeu. Implorou por mais alguns dias, mas Bertram foi implacável, tinha fome e não hesitou em matá-lo. O cadáver serviu de alimento aos dois náufragos por mais dois dias. Outro dois dias de fome se passaram. A mulher lhe propôs morrerem juntos, e nesta última agonia amaram-se, deliraram, e ela enlouqueceu. Bertram apertou-a aos braços, convulsivo, e sufocou-a. Uma solidão modorrenta se apoderou dele, e quando acordou do pesadelo estava a bordo de um navio que o salvara.
O quarto episódio é relatado por Gennaro, o pintor. Ele entra como aprendiz do velho Godofredo Walsh, casado em Segunda núpcias com Nauza, uma jovem de vinte anos que lhe servia de modelo. Com Godofredo vive também Laura, de quinze anos, filha de seu primeiro casamento. Os acontecimentos narrados são de trinta anos passados.
Por circunstâncias alheias à vontade do narrador, Gennaro seduz Laura, que durante três meses freqüenta o quarto do rapaz. Grávida, Laura implora para Gennaro pedi-la em casamento e diante de sua recusa, a moça percebe que ele não a amava. O motivo era simples, Gennaro apaixonara-se por Nauza. Laura, por sua vez, enfraquecia e
Uma noite... foi horrível,,, vieram chamar-me: Laura morria. Na febre murmurava meu nome e palavras que ninguém podia reter, tão apressadas e confusas lhe soavam. Entrei no quarto dela: a doente conheceu-me. Ergueu-se branca, com a face úmida de um suor copioso: chamou-me. Sentei-me junto do leito dela. Apertou minha mão nas suas mãos frias e murmurou em meus ouvido:
- Gennaro, eu te perdôo: eu te perdôo tudo... Eras um infame... Morrerei.... Fui uma louca... Morrerei... por tua causa... teu filho... o meu... vou vê-lo ainda... mas no céu... meu que filho matei... antes de nascer...
Após um ano da morte de Laura, Gennaro torna-se amante de Nauza.
E as noites que o mestre passava soluçando no leito vazio de sua filha, eu as passava no leito dele, nos braços de Nauza.
Certa noite fria e escura saíram o mestre e o aprendiz. Godofredo pôs-se a contar um a história (a real) de sua vida, expondo o conhecimento que tinha dos fatos, sabendo que Gennaro fora amante da filha e agora é amante da mulher. Musculoso e forte, em contenda, Godofredo prostrou Gennaro que caiu de um despenhadeiro e só não morreu porque ficou preso nos ramos de uma "azinheira gigantesca que assombrava o rio". Após um dia e uma noite de delírios, acordou na casa de camponeses que o haviam salvado e logo que sarou, partiu. Encontrou no caminho o punhal com que o mestre tentara matá-lo. Munido da arma, procurou a casa de Godofredo que parecia abandonada, entrou pelos quartos escuros, tateando até a sala do pintor e daí dar vazão à sua vingança. Encontrando-a vazia, dirigiu-se ao quarto de Nauza e encontrou-a morta, envenenada pelo marido, que jazia morto também e de sua boca "corria uma escuma esverdeada"...
Claudius Hermann é o quinto conto do volume. Claudius Hermann, após preâmbulos em que discursa com os amigos de orgia acerca de diversos temas, expõe sua história. Viciado em jogo, Claudius Hermann chegou a apostar toda sua fortuna. Em uma das corridas, viu uma mulher passar a cavalo.
Víssei-la como eu, no cavalo negro, com as roupas de veludo, as faces vivas, o olhar ardente entre o desdém dos cílios transluzindo a rainha em todo aquele ademane soberbo!... víssei-la bela na sua beleza plástica e harmônica, linda nas usas cores puras e acetinadas, nos cabelos negros e a tez branca da fronte, o oval das faces coradas, o fogo de nácar dos lábios finos, o esmero do colo ressaltando nas roupas de amazona!... víssei-la assim, e à fé, senhores, que não havíeis rir de escárnio como rides agora!
Tal foi o fascínio que a dama exerceu sobre o rapaz que ele, quase com obsessão, perseguiu-a. Descobriu que a mulher misteriosa era a duquesa Eleonora.
(...) seis meses de agonia e desejo anelante, seis meses de amor com a sede da fera! seis meses! como foram longos!
Um dia, encorajado, abordou-a da forma mais vil possível. Eleonora era casada. Uma noite, após um baile, aproveitou-se do cansaço e sonolência da mulher e, com a chave comprada de um criado, entrou em seu quarto e lhe deu um narcótico misturado ao vinho. Em seguida, seduziu a inconsciente.
Uma semana se passou assim: todas as noites eu bebia nos lábios à dormida um século de gozo. Um mês! o mês delirantes iam os bailes do entrudo, em que mais cheia de febre ela adormecia quente, com as faces em fogo...
O marido, o belo e jovem Maffio, uma noite prometeu visitá-la em seu leito. O amante, corroído de ciúme, resolveu fugir com a mulher. Após ministrar-lhe o narcótico, saiu com a inconsciente pelos corredores, e partiram de carruagem. Ao acordar, Eleonora percebeu que estava em um local estranho, com um desconhecido, e ficou desesperada. Claudius decidiu revelar-lhe o segredo.
Escutai. - o libertino amou pois o anjo, voltou o rosto ao passado, despiu-se dele como de um manto impuro. Retemperou-se no fogo do sentimento, apurou-se na virgindade daquela visão - porque ela era bela como uma virgem, e refletia essa luz virgem do espírito, nesse brilho d'alma divina que alumia s formas - que não são da terra, mas do céu. (...)
A mulher argumentou ser impossível amá-lo, ele contra-argumentou dizendo-lhe não ser mais possível a vida dela nos padrões da normalidade, uma vez que estava desonrada. Ninguém a perdoaria. Inicialmente a mulhr concordou viver com ele, mas
(...) um dia Claudius entrou em casa. Encontrou o leito ensopado de sangue e num recanto escuro da alcova um doido abraçado comum cadáver. O cadáver era o de Eleonora: o doido nem o poderíeis conhecer tanto a agonia o desfigurava. Era uma cabeça hirta e desgrenhada, uma tez esverdeada, uns olhos fundos e baços onde o lume da insânia cintilava a furto, como a emanação luminosa dos puis entre as trevas...
Mas ele o conheceu... era o Duque Maffio...
Envolvidos pela história, ébrios e sonolentos, embalados pela lascívia e pela podridão da noite, os convivas da reunião orgíaca acabam por adormecer.
O mais desgraçado dos companheiros de conversa é Johann, personagem-narrador do sexto episódio do livro. O cenário é Paris. Johann e Artur jogavam num bilhar. Ao faltar um ponto para Artur ganhar e ao narrador muitos, houve um desvio de bola e Johann exaltou-se, provocando o adversário para um duelo de morte. Artur aceitou, mas antes de partirem para a morte, pediu ao adversário de jogo que o acompanhasse ao hotel. Lá, escreveu algumas linhas, depois pediu para Johann entregá-la a... juntamente com um anel, caso viesse a ser vítima. Antes do duelo, os contendores brindaram.
Artur foi à secretária, tirou duas pistolas, uma carregada e a outra não. Estava lançada a sorte. No duelo morreu Artur. Johann, como havia prometido, tirou o anel do defunto, recolheu dois bilhetes. O primeiro era uma carta para mãe; o segundo, apenas dizia:
À uma hora da noite na rua de ...nº 60, 1º andar: acharás a porta aberta.
e a assinatura era apenas um G.
Johann teve uma idéia infame. Ele foi ao encontro.
Era escuro. Tinha no dedo o anel que trouxera do morto... Senti uma mãozinha acetinada tomar-me pela mão, subi. A porta fechou-se.
Ele seduziu a virgem. Ao sair, topou com um vulto à porta, voz levemente familiar. Desceu as escadas e sentiu uma lâmina resvalar-lhe os ombros. Uma luta horrível foi travada e houve mais um assassinato.
"Ao sair tropecei num objeto sonoro. Abaixei-me para ver o que era. Era um lanterna furta-fogo. Quis ver quem era o homem. Ergui a lâmpada...
O último clarão dela banhou a cabeça do defunto... e apagou-se...
Eu não podia crer: era um sonho fantástico toda aquela noite. Arrastei o cadáver pelos ombros... levei-o pela laje da calçada até o lampião da rua, levantei-lhe os cabelos ensangüentados do rosto... (...)
Aquele homem - sabei-lo!?... era do sangue do meu sangue, filho das entranhas de minha mãe como eu... era meu irmão!
Mas a desgraça maior ainda estava por lhe ser revelada: Johann havia possuído sua própria irmã.
Com Último beijo de amor, Álvares de Azevedo fecha o volume Noite na Taverna. Ao contrário dos outros,, traz a narrativa em 3ª pessoa. A noite ia alta e a orgia findara, pois os convivas dormiam embriagados. Entrou na taverna um a mulher vestida de negro, procurando um rosto conhecido. Quando a luz bateu em Arnold, a mulher ajoelhou-se, mas ergueu-se e dirigiu-se a Johann.
(...) A fronte da mulher pendeu e sua mão pousou na garganta dele. Um soluço rouco e sufocado ofegou daí. A desconhecida levantou-se. Tremia; ao segurar na lanterna ressoou-lhe na mão um ferro... era um punhal... Atirou-o no chão. Viu que tinha as mãos vermelhas, enxugou-as nos longos cabelos de Johann.
Voltando-se para Arnold, fez-se reconhecer. Era Giórgia que voltava depois de cinco anos. Arnold pediu para que o chamasse como antes - Artur - e pede-lhe beijos, enquanto ambos lamentam a sorte. A mulher somente vinha para dizer-lhe adeus e depois fecharia as portas de sua própria sepultura. Ante, porém, pede ao homem para que veja Johann morto. Confessa tê-lo matado e vingado aquele que a havia prostituído.
Geórgia a prostituta! vingou nele Geórgia - a virgem. Esse homem foi quem a desonrou! desonrou-a... a ela que era sua irmã!
Completando a cena de horror, entre Arnold e Giórgia aconteceu inevitáveis mortes que, de certa maneira, refletem a visão da geração de Álvares de Azevedo, o mal do século.
A mulher ajoelhou-se a seus pés.
- E agora adeus! adeus que morro! Não vês que fico lívida, que meus olhos se empanam e tremo... e desfaleço?
- Não! eu não partirei. Se eu vivesse amanhã haveria uma lembrança horrível em meu passado...
- E não tens medo? Olha! é a morte que vem! é a vida que crespucula em minha fronte. Não vês esse arrepio entre minhas sobrancelhas?...
- E que me importa o sonho da morte? Meu porvir amanhã seria terrível: e à cabeça apodrecida do cadáver não ressoam lembranças; seus lábios gruda-os a morte; a campa é silenciosa. Morrerei!
A mulher recuava... recuava. O moço tomou-a nos braços, pregou os lábios no dela... Ela deu um grito, e caiu-lhe das mãos. Era horrível de ver-se. O moço tomou o punhal, fechou os olhos, apertou-o no peito, e caiu sobre ela. Dois gemidos sufocaram-se no estrondo do baque de um corpo...
A lâmpada apagou-se.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Tirinhas - Chico Bento




Avaliação diagnóstica na produção de textos - Anderson Moço (revista Nova Escola)

http://revistaescola.abril.com.br/producao-de-texto/
Avaliação diagnóstica na produção de textos
Analisar detalhadamente a forma como os alunos escrevem é a primeira providência para determinar os pontos que devem ser ensinados
Anderson Moço (anderson.moco@abril.com.br)
Sobretudo do 3º ao 5º ano do Ensino Fundamental, as atividades de diagnóstico são indispensáveis porque as turmas costumam ser bastante heterogêneas: enquanto alguns estudantes demonstram mais familiaridade com os conteúdos gramaticais e a organização textual, outros, recém-alfabéticos, enfrentam dificuldades básicas em questões de ortografia. É claro que nada disso é problema: erros desse tipo são parte do processo de apropriação da linguagem. Mas às vezes as dificuldades são tão alarmantes e variadas que fica a sensação de que não há nem por onde começar...
A sondagem inicial serve justamente para mostrar - com o perdão do surrado ditado - que o diabo não é tão feio quanto se pinta. "Nos diagnósticos bem feitos, o objetivo não é contabilizar os erros um a um, porém agrupar problemas semelhantes para direcionar o planejamento de atividades capazes de corrigi-los", explica Cláudio Bazzoni, assessor de Língua Portuguesa da prefeitura de São Paulo e selecionador do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10. Em outras palavras, entender as principais dificuldades da turma é fundamental para saber o que é mais importante ensinar. E isso deve ser feito também com as crianças que têm deficiência (leia mais no quadro abaixo).
Inclusão - Deficiência física
Para realizar a sondagem inicial da produção de texto em alunos com deficiência física nos membros superiores, é preciso encontrar alternativas para que as crianças possam escrever. A avaliação deve levar em conta o grau de deficiência - o importante é valorizar o que o estudante faz dentro das suas possibilidades. Para os que conseguem escrever com uma adaptação para o uso do lápis, é possível que os traçados sejam disformes e distantes da representação formal das letras e palavras. Nessa situação, o melhor é não se prender às diferenças de forma - ao contrário, procure se focar no conteúdo, analisando o que o texto revela em termos de compreensão do assunto abordado. Já para aqueles que necessitam da ajuda de um colega para escrever, o ideal é observar a interação entre o aluno com deficiência e o colega, em especial a maneira como ele dita e revisa o que está escrevendo. Em todos os casos, a avaliação nas atividades de produção coletiva se torna ainda mais importante. Nas aulas de revisão, por exemplo, você pode pedir que as crianças com deficiência exponham suas ideias sobre a construção do texto e registrar as falas como uma referência na avaliação.
Uma lista para mapear as dificuldades da turma

Antes de começar a atividade, é preciso montar uma lista com os itens que serão analisados. Não podem faltar aspectos relacionados aos padrões de escrita e às características do texto. Do 3º ao 5º ano, o foco deve recair sobre a ortografia e a pontuação e é essencial verificar se a turma conhece e respeita os traços do gênero escolhido (veja na imagem acima um exemplo de diagnóstico com base em alguns dos erros mais comuns nessa fase).

Em seguida, você já pode pedir que os alunos escrevam. Não há segredo: como em qualquer proposta de produção escrita, os alunos precisam saber para que vão escrever (ou seja, a intenção comunicativa deve estar bem definida), o que vão escrever (o gênero selecionado) e quem vai ler o material (o destinatário do texto). "Também é importante explicar que essas produções servem para mostrar ao professor como ajudá-los a ser escritores cada vez mais competentes", afirma Soraya Freire de Oliveira, professora da EE Carvalho Leal, em Manaus. Em sua classe de 5º ano, ela propôs que a garotada produzisse uma autobiografia, gênero que vinha sendo trabalhado desde o ano anterior - uma opção válida, já que os estudantes tinham familiaridade com o tipo de texto. Contudo, os especialistas apontam que pode ser ainda mais produtivo sugerir que os alunos recriem, com suas próprias palavras, histórias conhecidas, como uma fábula (leia mais no plano de aula). "Assim, você pode se concentrar nos aspectos que têm de ser melhorados para aproximar o texto que os alunos fazem daquilo que é considerado bem escrito", afirma Cláudio.

Com as produções em mãos, Soraya, a professora de Manaus, partiu para a análise, anotando na lista de aspectos sondados quantas vezes cada tipo de erro se repetia nas produções. No fim, descobriu que muitas crianças não utilizavam sinais de pontuação. "Percebi que esse deveria ser o conteúdo prioritário naquele início de ano", ressalta.

Do 3º ao 5º ano, a ortografia é um dos problemas comuns

O resultado do diagnóstico de Soraya é bastante comum: ortografia e pontuação costumam ser os pontos mais críticos para as crianças dessa faixa etária. "Muitos alunos escrevem do jeito que falam e até inventam palavras", conta Cláudio. Mesmo assim, dizer que a turma tem problemas com "ortografia e pontuação" é vago demais. Quais problemas, especificamente? Faltam vírgulas? Muitos trocam letras? Poucos sabem dividir os parágrafos? Mais uma vez, a sondagem pode ajudar: se os itens analisados forem bem determinados, você saberá com bastante precisão que pontos atacar.

É importante lembrar, ainda, que cada conteúdo deve ser abordado por meio de novas propostas de textos, sempre com etapas de revisão. Refletir sobre os aspectos notacionais (relativos às regras de uso da língua) e discursivos (relativos ao contexto de produção) é o jeito mais eficaz de levar os alunos a aprender os padrões de escrita e a superar os problemas que enfrentam ao escrever.


Diagnóstico do domínio da linguagem escrita
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Objetivo
Identificar o domínio de cada aluno em relação aos padrões da linguagem escrita.
Conteúdos específicos
- Produção de texto.
- Fábulas.
Anos
Do 3º ao 5º ano
Material necessário
Folhas para escrever, lápis e borracha.
No caso de alunos com deficiência intelectual, providencie, também, uma prancha de comunicação.
Flexibilização
Para alunos com paralisia cerebral, mas com um nível razoável de compreensão, ofereça uma explicação individual a respeito da atividade que será realizada e marque no quadro todas as etapas da aula. A repetição é fundamental para o acompanhamento.
Ao invés de realizar o trabalho de reprodução da fábula individualmente, divida a turma em duplas, para que o aluno seja apoiado por um colega. Ambos devem discutir o enredo da fábula, mas o aluno sem deficiência servirá como escriba. Caso o aluno seja incapaz de falar com clareza, uma alternativa é utilizar uma prancha de comunicação - um cartaz com imagens e trechos da fábula para que o aluno com deficiência possa apontar (com as mãos ou pés) os elementos sobre os quais deseja contar algo.
Se necessário, estenda o tempo da atividade e oriente os familiares do aluno com deficiência para que releiam a história com ele em casa, antes da produção textual.

Desenvolvimento
1ª etapa
Converse com a turma sobre a atividade que você vai propor, explicando que ela será importante para o planejamento das próximas aulas e vai ajudar todos a escrever com mais segurança. A tarefa é reproduzir por escrito uma fábula (de conhecimento da turma) que será lida por você em sala.

2ª etapa
Depois da leitura, converse sobre o enredo para que as crianças se familiarizem ao máximo com a história. Você pode solicitar que contem a fábula oralmente para ter a certeza de que
todos têm condições de reproduzi-la por escrito. Por fim, peça que os alunos a escrevam por conta própria.

Flexibilização para deficiência intelectual
Peça à família ou ao AEE que leiam mais vezes a fábula escolhida e que o aluno a reconte. Em classe, tenha uma conversa antecipada com ele para que possa perceber melhor o comportamento esperado. Proponha ao grupo um reconto oral em que cada um conte parte da fábula. Combine antes qual será lida por ele. A escrita da fábula pode ser feita em dupla, se ele não for alfabético. Nesse caso, o colega será o escriba.

Avaliação
O diagnóstico é feito ao analisar os textos de acordo com uma lista de problemas e dificuldades previamente estabelecida, que considere tanto padrões de escrita como características do gênero escolhido. No caso das fábulas, uma sugestão possível é a seguinte:

Padrões de escrita
- Apresenta muitas dificuldades para representar sílabas cuja estrutura seja diferente de consoante-vogal.
- Apresenta erros por interferência da fala na escrita em fim de palavras.
- Apresenta erros por interferência da fala na escrita no radical.
- Troca letras ("c"/"ç", "c"/"qu", "r"/ "rr", "s"/"ss", "g"/"gu", "m"/"n") por desconhecer as regularidades contextuais do sistema ortográfico.
- Troca letras ("c"/"ç"/"s"/"ss"/"x", "s"/"z", "x"/"ch", "g"/"j") por desconhecer as múltiplas representações do mesmo som.
- Realiza trocas de consoantes surdas (produzidas sem vibração das cordas vocais, como "p" e "t") e sonoras (com vibração das cordas, como "b" e "d").
- Revela problemas na representação da nasalização ("ã"/"an").
- Não domina as regras básicas de concordância nominal e verbal da língua.
- Não segmenta o texto em frases usando letras maiúsculas e ponto (final, interrogação, exclamação).
- Não emprega a vírgula em frases.
- Não segmenta o texto em parágrafos.
- Não dispõe o texto (margens, parágrafos, títulos, cabeçalhos) de acordo com as convenções.
Flexibilização para deficiência intelectual
Se o aluno ainda não dominar a escrita, explore bastante o reconto oral e a leitura das ilustrações. O reconto pode ser gravado em áudio e explorado junto com todo o grupo.

Características do gênero
- Modifica o conflito principal da história.
- Não evidencia a relação entre os personagens.
- Não constrói o clímax.
- Transforma o desfecho da história.
- Não constrói o texto de modo a retomar ideias anteriores para dar unidade de sentido (coesão referencial).
- Não usa marcadores temporais.
Assim que preencher a análise de todos os alunos, faça a tabulação dos dados. Se você tiver acesso a um computador e um software de edição de planilhas (do tipo Excel), esse trabalho poderá ser feito com mais rapidez. Consolide os dados e verifique quantas vezes os problemas listados aparecem no texto de cada criança. Em seguida, registre o total de vezes que esse problema aparece em todo o grupo. Com base nesse diagnóstico, liste os problemas principais que precisam ser trabalhados com toda a turma, tratando-os como conteúdos prioritários para o semestre.
Essa análise também vai permitir que você identifique dificuldades individuais dos alunos. Uma opção para tratá-las é planejar atividades em grupos, desde que eles reúnam alunos com diferentes níveis de conhecimento. Dessa forma, os estudantes mais avançados poderão interagir com aqueles que têm dificuldades para que possam se desenvolver juntos.
Tenha cuidado ao formar esses grupos. O nível de conhecimento dos alunos deve ser variado, porém, não muito. Caso contrário, corre-se o risco de o aluno com dificuldade não conseguir acompanhar o colega mais avançado.

Quem conta um causo aprende a ler - Paola Gentile


O suspense dos contos de assombração ajudou a professora Rosany a dar continuidade à alfabetização de sua turma de 2ª série e a resgatar as histórias contadas pela comunidade
Paola Gentile (pagentile@abril.com.br)

Rosany lê contos de assombração: momentos de magia que ajudaram na alfabetização da turma
Medo, arrepios, suspense e calafrios. Essas foram algumas das expressões usadas pelos alunos de 2ª série da Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Associação da Paz, de Paragominas (PA), para caracterizar os contos de assombração. Essas narrativas, assustadoras e cativantes, fizeram parte das aulas de Língua Portuguesa das crianças durante o primeiro semestre do ano passado. Disposta a dar continuidade à alfabetização da turma iniciada em 2004, a professora Rosany de Fátima Silva Guerreiro, 31 anos, escolheu os causos de arrepiar contados pelos pais e pelos familiares dos alunos como tema de seu projeto. A professora, que leciona há 14 anos, se inspirou em atividades que ela mesma vivenciou durante o programa de formação Escola que Vale - mantido pela Companhia Vale do Rio Doce em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Paragominas. Rosany propôs diversas situações para que os alunos se apropriassem da linguagem escrita e oral. Cada aluno teve contato com pelo menos uma dezena de livros do gênero, produziu cinco reescritas, elaborou um caderno de contos e participou de sarau literário com colegas de outras turmas e de outra escola.

Passo a passo e metodologia

1. A Leitura e a escolha dos contos
Os momentos em que Rosany lia histórias de assombração para a turma eram de puro encantamento e magia. Essa atividade marcava o início de um processo que se repetiria várias vezes durante o projeto. Atenta aos detalhes, a garotada começou a perceber as características específicas desse tipo de narrativa (contos de assombração nunca começam com "era uma vez...", mas com "certa noite", "em um local tenebroso" ou algo tão assustador quanto). Rosany anotou as observações e as colocou em um cartaz. Foi enriquecedor também quando ela pediu aos estudantes para contar em quais momentos sentiram mais medo e de que forma ele se manifestou. Como o corpo reagiu às situações assustadoras? O coração bateu mais rápido? Os olhos se arregalaram? "Isso foi importante para que eles identificassem e descrevessem as emoções", analisa Rosany. Depois de nomear e escrever na lousa todas aquelas sensações, a professora solicitou que, coletivamente, eles fizessem o reconto oral, enquanto ela transcrevia esse novo texto.

2. Correção coletiva
Quando os alunos já estavam familiarizados com as novas palavras e com a história, Rosany entregou uma cópia do conto original a cada um para que acontecesse a leitura compartilhada. Nesse momento, a turma acompanhava no papel a leitura em voz alta da professora. Depois, cada um fez a própria reescrita. Desses textos individuais, a professora escolheu alguns para a revisão coletiva. Ela copiava um na lousa e as crianças davam palpites: alguns sugeriam palavras mais adequadas às situações narradas; outros percebiam erros ortográficos ou de concordância. Durante essa atividade, Rosany chamava a atenção para a estrutura narrativa e para a pontuação correta, ressaltando sempre a intenção do autor. Depois, todos liam e copiavam o texto revisado. Esse processo foi realizado com diversas histórias. Além de servir de escriba para os pequenos em produções coletivas, Rosany também organizou a classe em duplas em vários momentos para que os já alfabetizados escrevessem o texto elaborado pelos que ainda não dominavam a linguagem escrita.

3. Produção e apresentação
Durante o projeto, os alunos fizeram contato com as demais turmas e também com outra escola para chamá-las para o sarau literário. Escolhido o público, vez ou outra o grupo parava a atividade de reescrita e redigia um bilhete para os convidados contando como andava o projeto e o que estava sendo preparado para o evento. Rosany ensaiou várias vezes com os estudantes os contos que seriam apresentados. Nessas ocasiões, ela analisou a clareza da fala e a entonação, o ritmo e a seqüência dos fatos narrados. No dia do sarau, não faltaram fantasmas, mulas-sem-cabeça, sacis, esqueletos e muitos balões pretos na decoração do palco. As crianças, seguras do que estavam falando, conseguiram até botar medo nos colegas que assistiram à apresentação.

Estrutura básica dos contos de fadas - Branca de neve e os sete anões - com interpretação textual


Narrativas que giram ao redor de um universo de fantasia, geralmente com a presença de elementos mágicos.
 Início – O tempo é sempre indeterminado, começa frequentemente com “Era uma vez”. Apresentação das personagens e de como elas vivem.
 Complicação: após a situação inicial, a história se desenvolve com o surgimento de conflitos e problemas a serem resolvidos.
 Desfecho: conclusão da história, com o fim dos conflitos.

Certamente, você já teve contato com os contos de fada, na convivência com os amigos, com os seus familiares e também no ambiente escolar. Por essa razão conhece muitos deles e sabe identificar os elementos que caracterizam esses contos.
Convide, então, dois colegas para, por meio da leitura de um desses contos, recordarem das características desse gênero, darem início a um novo desafio e descobrirem por que e como essas histórias continuam presentes no universo de crianças e adultos. Para isso é importante refletir sobre as características e intenções nelas presentes e participar das propostas de dar a essas histórias novos “lances” e, na seqüência, criar o seu próprio universo de contos de fada.

Branca de Neve e os sete anões

Há muito tempo, num reino distante, viviam um rei, uma rainha e sua filhinha, a princesa Branca de Neve. Sua pele era branca como a neve, os lábios vermelhos como o sangue e os cabelos pretos como o ébano.
Um dia, a rainha ficou muito doente e morreu. O rei, sentindo-se muito sozinho, casou-se novamente.
O que ninguém sabia é que a nova rainha era uma feiticeira cruel, invejosa e muito vaidosa. Ela possuía um espelho mágico, para o qual perguntava todos os dias:
— Espelho, espelho meu! Há no mundo alguém mais bela do que eu?
— És a mais bela de todas as mulheres, minha rainha! — respondia ele.
Branca de Neve crescia e ficava cada vez mais bonita, encantadora e meiga. Todos gostavam muito dela, exceto a rainha, pois tinha medo que Branca de Neve se tornasse mais bonita que ela.
Depois que o rei morreu, a rainha obrigava a princesa a vestir-se com trapos e a trabalhar na limpeza e na arrumação de todo o castelo. Branca de Neve passava os dias lavando, passando e esfregando, mas não reclamava. Era meiga, educada e amada por todos.
Um dia, como de costume, a rainha perguntou ao espelho: — Espelho, espelho meu! Há no mundo alguém mais bela do que eu?
— Sim, minha rainha! Branca de Neve é agora a mais bela!
A rainha ficou furiosa, pois queria ser a mais bela para sempre. Imediatamente mandou chamar seu melhor caçador e ordenou que ele matasse a princesa e trouxesse seu coração numa caixa.
No dia seguinte, ele convidou a menina para um passeio na floresta, mas não a matou.
— Princesa, — disse ele — a rainha ordenou que eu a mate, mas não posso fazer isso. Eu a vi crescer e sempre fui leal a seu pai.
— A rainha?! Mas, por quê? — perguntou a princesa.
— Infelizmente não sei, mas não vou obedecer a rainha dessa vez. Fuja, princesa, e por favor não volte ao castelo, porque ela é capaz de matá-la!
Branca de Neve correu pela floresta muito assustada, chorando, sem ter para onde ir.
O caçador matou uma gazela, colocou seu coração numa caixa e levou para a rainha, que ficou bastante satisfeita, pensando que a enteada estava morta
Anoiteceu. Branca de Neve vagou pela floresta até encontrar uma cabana. Era pequena e muito graciosa. Parecia habitada por crianças, pois tudo ali era pequeno.
A casa estava muito desarrumada e suja, mas Branca de Neve lavou a louça, as roupas e varreu a casa. No andar de cima da casinha encontrou sete caminhas, uma ao lado da outra. A moça estava tão cansada que juntou as caminhas, deitou-se e dormiu.
Os donos da cabana eram sete anõezinhos que, ao voltarem para casa, se assustaram ao ver tudo arrumado e limpo.
Os sete homenzinhos subiram a escada e ficaram muito espantados ao encontrar uma linda jovem dormindo em suas camas.
Branca de Neve acordou e contou sua história para os anões, que logo se afeiçoaram a ela e a convidaram para morar com eles
Os donos da cabana eram sete anõezinhos que, ao voltarem para casa, se assustaram ao ver tudo arrumado e limpo.
Os sete homenzinhos subiram a escada e ficaram muito espantados ao encontrar uma linda jovem dormindo em suas camas.
Branca de Neve acordou e contou sua história para os anões, que logo se afeiçoaram a ela e a convidaram para morar com eles.
O tempo passou... Um dia, a rainha resolveu consultar novamente seu espelho e descobriu que a princesa continuava viva.
Ficou furiosa. Fez uma poção venenosa, que colocou dentro de uma maçã, e transformou-se numa velhinha maltrapilha.
O caçador matou uma gazela, colocou seu coração numa caixa e levou para a rainha, que ficou bastante satisfeita, pensando que a enteada estava morta— Uma mordida nesta maçã fará Branca de Neve dormir para sempre — disse a bruxa.
No dia seguinte, os anões saíram para trabalhar e Branca de Neve ficou sozinha
Pouco depois, a velha maltrapilha chegou perto da janela da cozinha. A princesa ofereceu-lhe um copo d’água e conversou com ela.
— Muito obrigada! — falou a velhinha — coma uma maçã... eu faço questão!
No mesmo instante em que mordeu a maçã, a princesa caiu desmaiada no chão. Os anões, alertados pelos animais da floresta, chegaram à cabana enquanto a rainha fugia. Na fuga, ela acabou caindo num abismo e morreu.
Os anõezinhos encontraram Branca de Neve caída, como se estivesse dormindo. Então colocaram-na num lindo caixão de cristal, em uma clareira e ficaram vigiando noite e dia, esperando que um dia ela acordasse.
Um certo dia, chegou até a clareira um príncipe do reino vizinho e logo que viu Branca de Neve se apaixonou por ela. Ele pediu aos anões que o deixassem levar o corpo da princesa para seu castelo, e prometeu que velaria por ela. Os anões concordaram e, quando foram erguer o caixão, este caiu, fazendo com que o pedaço de maçã que estava alojado na garganta de Branca de Neve saísse por sua boca, desfazendo o feitiço e acordando a princesa. Quando a moça viu o príncipe, se apaixonou por ele. Branca de Neve despediu-se dos sete anões e partiu junto com o príncipe para um castelo distante onde se casaram e foram felizes para sempre.
Disponível em: Acesso em: jan. 2009.

1.Releiam o seguinte trecho do conto:
“Há muito tempo, num reino distante, viviam um rei, uma rainha e sua filhinha (...)”
Assinalem com um X a conclusão a que podem chegar considerando esse trecho:
()A história se passa numa época imaginada, inventada.
()A época em que a história ocorre pode ser identificada com precisão.
2.Um conto de fadas apresenta seres encantados – como fadas, bruxas, magos – dotados de poderes mágicos, sobrenaturais. Quem são os seres encantados do conto lido?

3.Nos contos de fadas é comum a presença de um herói e de uma heroína.
a)Quem são o herói e a heroína dessa história?

b)Quais são as características físicas e psicológicas dessas personagens?

c)Essas características se mantêm ou se modificam no transcorrer da história? Isso ocorre por quê?

4.Em uma história de fadas, a personagem principal pode também ser chamada de protagonista e, o vilão (ou vilã), personagem indispensável em todo conto de fadas, recebe o nome de antagonista, isto é, aquele que se opõe ao protagonista.
a)No conto “Branca de Neve e os sete anões” quem é o antagonista?

b)Quais são as características dessa personagem?

c)Vocês consideram importante a presença dessa personagem na história? Por quê?

5.Em todos os contos de fada há um conflito. Expliquem qual é o conflito presente nessa história, indicando:
a)quem é a personagem responsável pelos sentimentos e atitudes que deram origem à situação;
b)como se soluciona esse problema e o que é importante para solucioná-lo.

6.Como vocês já sabem, os contos de fadas costumam apresentar um final feliz. Na opinião de vocês, por que isso ocorre?

7.Os contos de fadas geralmente trazem um ensinamento. Que possível ensinamento foi transmitido pelo conto lido?

Procurando firme - Ruth Rocha - com interpretação textual

– Esta é uma história de um príncipe e de uma princesa.
– Outra história de príncipe e princesa? Puxa vida! Não há quem agüente mais essas histórias! Dá um tempo!
– Espera um pouco, ô! Você não sabe ainda como a história é.
– Ah, isso eu sei! Aposto que tem castelo!
– Ah, tem, castelo tem.
– E tem rei e rainha.
– Ah, rei e rainha também tem.
– Vai me dizer que não tem dragão!
– Bom, pra falar a verdade tem dragão!
– Puxa vida! E você ainda vem dizer que não é daquelas histórias chatíssimas, que a princesa fica a vida inteira esperando o príncipe encantado?
– Ah, vá, deixa eu contar. Depois você vê se gosta. Que coisa! Desde que o Osvaldinho inventou essa de "não li e não gostei" você pegou a mesma mania. . .
– Então tá! Conta logo, vai!
Era uma vez um castelo, com rei, rainha, príncipe, princesa, muralha, fosso em volta, ponte levadiça e um terrível dragão na frente da porta do castelo, que não deixava ninguém sair.
– Mas como não deixava?
– Sei lá. A verdade é que ele parecia muito perigoso.
E cada pessoa via um perigo no dragão.
Uns reparavam que ele tinha unhas compridas, outros reparavam que ele tinha dentes pontudos, um tinha visto que ele tinha um rabo enorme, com a ponta toda cheia de espinhos... Tinha gente que achava que ele era verde, outros achavam que era amarelo,. roxo, cor-de-burro-quando-foge. .. E saía fogo do nariz dele. Saía, sim! Por isso ninguém se atrevia a cruzar o pátio para sair de dentro das muralhas.
Mas o príncipe, desde pequeno, estava sendo treinado para sair um dia do castelo e correr mundo, como todo príncipe que se preza faz.
Ele tinha professor de tudo: professor de esgrima, que ensinava o príncipe a usar a espada; professor de berro. . .
– Professor de berro? Essa eu nunca ouvi!
– Ouviu sim. Nos filmes de Kung Fu, ou nas aulas de caratê os caras dão sempre uns berros, que é pra assustar o adversário.
Tinha aula de berro. Tinha aula de corrida, que era para atravessar bem depressa o pátio e chegar logo no muro... Tinha aula de alpinismo, que é a arte de subir nas montanhas e que ele praticava nas paredes do castelo; tinha aula de tudo quanto é língua, que era para quando ele saísse do castelo e fosse correr mundo pudesse falar com as pessoas e entender o que elas diziam... Tinha aula de andar a cavalo, de dar pontapés... Tinha aula de natação, que era para atravessar o fosso quando chegasse a hora, tinha aula do uso do cotovelo...
– Ah, essa não! Você está inventando tudo isso. Nunca ouvi falar em uso do cotovelo!
– Pois o príncipe tinha aula. Ensinavam pra ele a esticar o braço dobrado, com o cotovelo bem espetado e cutucar quem ficasse na frente.
E tinha aula de cuspir no olho... E ele até esfregava o joelho no chão, que é para o joelho ficar bem grosso e não machucar muito quando ele caísse. E ele aprendia a não chorar toda hora, que às vezes chorar é bom, mas chorar demais pode ser uma bruta perda de tempo. E quem tem que fugir de dragão, espetar dragão, enganar dragão, não tem tempo para ficar choramingando pelos cantos.
Enquanto isso a princesinha, irmã do príncipe, que era linda como os amores e tinha os olhos mais azuis que o azul do céu, e tinha cabelos tão dourados quanto as espigas do campo e que tinha uma pele tão branca como as nuvens nos dias de inverno...
– Branca como as nuvens no inverno? Por que no inverno? Não pode ser no verão?
– Ah, não pode, não. Nuvem no verão é nuvem de chuva. Portanto é escura. . .
– É, mas nos países frios, no inverno as nuvens são escurinhas. . .
– Olha, vamos parar com essas discussões que não levam a nada. No máximo encompridam o livro e ele fica muito chato. A pele da princesa era branca, pronto. E as mãos da princesa eram macias como... Ah, não importa. As mãos eram macias, os pés eram pequenos, e a voz da princesa era maviosa.
– Maviosa?
– É, maviosa, melodiosa! Eu sei que essa palavra não se usa mais, mas se eu não usar umas palavras bonitas, meio difíceis, vão ficar dizendo que eu não incentivo a cultura dos leitores.
– E o que é que a princesa fazia o dia inteiro?
– A princesa se ocupava de ocupações principescas, quer dizer, a princesa tomava aulas de canto, de bordado, de tricô, de pintura em cerâmica. A princesa fazia cursinhos de iniciação à poesia de Castro Alves, estudava um pouquinho de piano, fazia flores de marzipã...
– O que é marzipã?
– Ah, marzipã é um doce muito caro, que ninguém come mais, que não há dinheiro que chegue. . .
– E ela aprendia a enfeitar bolos, a fazer crochê com fios de cabelo...
– Com fios de cabelo?
– Pois é, naquele reino era muito bonito ter prendas...
– Prendas?
– É, dotes...
– Dotes?
– É, saber fazer coisas que não servem pra nada, que é pra todos saberem que a pessoa é rica... Só faz as coisas pra se distrair... Se uma pessoa estuda datilografia, por exemplo, tá na cara que ela vai trabalhar em alguma coisa... Ou se ela entra num curso de medicina, de engenharia, de confecção industrial... aí está claro que ela quer trabalhar, ganhar a vida, ganhando dinheiro, sacou? Agora, se ela estuda frivolitê, por exemplo, tá na cara que ela está só se distraindo, deixando o tempo passar...
– E pra que uma pessoa quer deixar o tempo passar?
– Bom, as pessoas em geral eu não sei. Agora, a princesa da nossa história estava deixando o tempo passar que é pra esperar um príncipe encantado que vinha derrotar o dragão e casar com ela. Até estava deixando o cabelo crescer pra fazer que nem a Rapunzel, que jogava as tranças para o príncipe subir por elas.
Aí chegou o dia do príncipe sair para correr mundo. Ele não quis levar muita bagagem, para não ficar pesado. Saiu de madrugada, bem cedinho. E lá se foi correndo, dando cotoveladas, cuspindo no olho de quem passasse perto. Passou pelo dragão, escalou o muro do palácio, caiu do outro lado, nadou pelo fosso, subiu na outra margem e se foi pelo mundo, procurando não sei bem o quê, mas procurando firme.
– E a princesa?
– A princesa continuava esperando.
E tanto esperou que um dia apareceu, em cima do muro do castelo, um príncipe com cara de encantado que desceu por umas cordas, deu umas cutucadas no dragão, montou uma bicicleta desmontável que ele tinha trazido, atravessou o pátio inteirinho e subiu pelas tranças da princesa, que estava fazendo força para parecer graciosa com aquele marmanjão subindo pelas tranças dela acima. No que o príncipe chegou lá em cima já foi fazendo uns salamaleques para a princesa e já foi perguntando se ela queria casar com ele.
Mas a princesa estava desapontada! Aquele não era o príncipe que ela estava esperando! Até que ele não era feio, tinha umas roupas bem bonitas, sinal que devia ser meio riquinho, mas era meio grosso, tinha um jeitão de quem achava que estava abafando, muito convencido!
A princesa torceu o nariz.
O pai e a mãe da princesa ficaram muito espantados, ainda quiseram consertar as coisas, disfarçar o nariz torto da princesa, que eles estavam achando o príncipe bem jeitoso... Afinal ele era o príncipe da Petrolândia, um lugar que tinha um óleo fedorento que todo mundo achava que um dia ia valer muito dinheiro...
Então a mãe da Linda Flor (a princesa se chamava Linda Flor, eu já contei?) chegou junto da filha, deu-lhe um cutucão disfarçado e disse com uma voz mais melosa que doce de coco:
– Filhinha, filhinha, vai fazer uma baba-de-moça pro moço, vai...
– Ai, mãe, não vou não, estou com preguiça.
– Que é isso, minha filha, você nunca, nunquinha na sua vida teve preguiça... Então vai fazer uns fiozinhos d'ovos pro moço ver como você é prendada...
– Ai, mãe, não vou não, não estou a fim de agradar esse moço. Acho ele muito chato...
A mãe mais o pai de Linda Flor ficaram brancos de susto... Afinal, se a filhinha deles não agradasse os moços que apareciam para salvá-Ia, como é que ela ia arranjar casamento? Então o pai virou fera:
– Anda logo, menina, vai preparar um vatapazinho pro moço. Já e já!
– Olha aqui, pai, eu até posso fazer vatapá, sarapatel, caruru, qualquer coisa, mas tire o cavalinho da chuva que com esse príncipe eu não vou casar.
A essa altura o príncipe também já estava tão cheio daquela princesa que foi embora e não voltou mais, para tristeza dos reis e grande alívio de Linda Flor.
E assim muitos príncipes vieram, muitos príncipes se foram e Linda Flor já nem jogava as tranças para eles subirem. Tinha posto uma escada na janela que era mais prático.
Para falar a verdade, com grande susto dos pais, Linda Flor tinha cortado os cabelos e estava usando um penteado esquisitíssimo copiado de povos longínquos da Africolândia.
E as roupas de Linda Flor? Ela não usava mais aqueles lindos vestidos de veludo com entremeios de renda e beiradas de arminho que a gente vê nas figuras dos contos de fadas.
Ela agora estava usando... calças compridas! - E pra que ela usava calças compridas?
– Ah, não vou dizer ainda pra não perder a graça.
Ela usava calças compridas, que nem o príncipe. E estava diferente, não sei, queimada de sol, logo ela que era tão branquinha!
Os professores estavam se queixando que ela não ia mais às aulas de craquelê, nem às aulas de etiqueta, nem às aulas de minueto. E a corte inteira se espantava com a modificação da princesa, que deu para rir alto e que até se intrometia nas conversas dos mais velhos. Até nas conversas dos ministros sobre política ela deu para dar palpites! E não queria mais ser chamada de Linda Flor.
– Que nome mais careta! Quero que me chamem de Teca, de Zaba, de Mari, um nome mais moderninho!
E então um dia todo mundo no palácio levou um grande susto.
No meio da manhã, na hora em que princesas delicadas ainda estão dormindo, ouviu-se o maior berro."
– Berro?
– É, berro! E berro de princesa!
– Que foi que aconteceu? – perguntava um. – Será que a princesa está em perigo? perguntava outro.
– Não parece perigo, não! – dizia um terceiro.– Ela está berrando igualzinho como berrava o príncipe...
E os berros continuavam, cada vez mais fortes. E todos correram na direção de onde vinham os berros e que era lá em cima do castelo.
O primeiro que chegou foi o rei.
E ficou espantadíssimo quando viu a princesa, correndo de um lado para o outro, de espada na mão, dando aqueles gritos medonhos que ele tinha ouvido lá do outro lado do castelo:
– Mas o que é isso? Que história é essa? O que é que está acontecendo?
A princesa parou de correr, enxugou a testa com as costas da mão e sorriu, muito contente:
– Ah, pai, nem queira saber! Que barato!
Estou tendo umas aulas com os instrutores de meu irmão. Estou aprendendo esgrima, estou aprendendo a correr, estou aprendendo berro...
A rainha, que já vinha chegando, parou horrorizada:
– Aprendendo berro?
E a rainha desmaiou ali mesmo, mas ninguém se incomodou muito, porque a rainha adorava desmaiar. Aliás, ela vivia dizendo que a princesa precisava tomar umas aulas de desmaio, que era muito útil desmaiar nas horas certas.
E a princesa continuou a explicar:
– Pois é, estou aprendendo tudo que é preciso para poder sair deste castelo e correr mundo como meu irmão.
– Correr mundo? - perguntou o rei quase desmaiando também. Mas não desmaiou porque lembrou que homem não desmaia.
– Correr mundo? – perguntou a rainha, que já tinha acordado porque estava muito curiosa de ouvir as explicações da princesa.
– É isso mesmo, correr mundo! Eu estou muito cansada de ficar neste castelo esperando que um príncipe qualquer venha me salvar. Eu acho muito mais divertido sair correndo mundo como os príncipes fazem. E se eu tiver que casar com alguém, eu encontro por aí, que o mundo é bem grande e deve estar cheio de príncipes pra eu escolher.
– Mas minha filha – gaguejou a rainha onde é que já se viu? E os perigos? E os dragões? E as mulas-sem-cabeça?
– Pois é por causa dos perigos e dos dragões e das mulas-sem-cabeça que eu estou tomando aulas, que é pra me defender! Eu estou ótima nas cabeçadas e nos rabos-de-arraia. Só está faltando eu treinar um pouquinho pulos com vara e uns gritos de comando.
– Gritos de comando?
– Pois é, não adianta só a gente dar uns gritos. É preciso dar os gritos com convicção, quer dizer, com a confiança de que vai ser obedecido, senão não dá resultado. Quer ver?
– JÁ PRA BAIXO, CAMBADA!
No que a princesa gritou, todo mundo começou a descer as escadas correndo, na maior aflição.
E a princesa, satisfeita, apertou a mão do instrutor de berro.
– Os berros já estão no ponto, também ela disse.
O palácio ficou em polvorosa com a notícia.
Só se viam pessoas cochichando:
– Pois é como eu lhe digo. A princesa... – Estou lhe dizendo. A princesa...
– Sabe que a princesa...
E a princesa continuava com seus treinos, todos os dias, sem desanimar.
Até que um dia...
Chegou o dia da princesa sair para correr mundo.
Ela não quis levar muita bagagem, para não ficar pesada. Saiu de madrugada, bem cedinho. Passou pela porta da frente e lá se foi a princesa, correndo, passando rasteira, jogando pedras. Quando chegou perto do dragão deu três pulos, que ela tinha aprendido no balé, chegou perto do muro, deu um salto com vara, passou por cima da muralha, empurrou para a margem do fosso uma canoa que estava perto, remou com força e foi sair do outro lado. Pulou na margem, acenou para as pessoas que estavam olhando do castelo e se foi pelo mundo, procurando não sei o quê, mas procurando firme!

ROCHA, Ruth. Procurando firme. São Paulo: Ática, 1997

1.Era uma vez uma princesa que não era exatamente uma princesa de contos de fada. Considerando as informações da narrativa, aponte as características físicas e psicológicas dessa princesa.

2.O que, segundo o texto, causou tantas alterações no comportamento de Linda Flor?

3.Fica evidente no texto que alguém está contando a história de Linda Flor a alguém. Então, responda:

•Quais as reações do ouvinte ao tomar conhecimento da história?

•Além dos acontecimentos, o que mais chama a atenção do ouvinte nessa narrativa?

•Qual a variante lingüística empregada pelo narrador dessa história e por seu interlocutor? Transcreva um trecho que comprove sua resposta.