terça-feira, 17 de julho de 2012
A semana (São Paulo, 1922) - texto de Célia A. N. Passoni com interpretação
A Semana (São Paulo, 1922)
A Semana de Arte Moderna foi realizada nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro. A inauguração (dia 13) da Semana contou com a conferência do acadêmico Graça Aranha e com a execução de números musicais por Villa- Lobos, Guiomar Novaes, Alfredo Gomes, Paulina D”Ambrósio, entre outros, e foi recebida sem hostilidade. No entanto, a sessão do dia 15 foi tumultuada, principalmente no momento em que Ronald de ?Carvalho recitou “Sapos”, poema enviado por Manuel Bandeira. Vaias ruidosas soaram quando Mário de Andrade declamou seus versos de “Ode ao burguês”. O público preparado para um “festival de vaias” compareceu em massa à última noite, que contou, principalmente, com números musicais. Segundo se lê no jornal O Estado de S. Paulo:
“ Semana Futurista – felizmente foram vingados os brios paulistas. Na última pagoderia da Semana futurista, foi
preciso fechar as galerias para evitar que o palco se enchesse de batatas. Mesmo, porém, com as galerias interditas, a coisa se convertia em enorme pateada, se houvesse um dos tais discursos nefelibatas e sem nexo como os das noites anteriores. A plateia estava preparada para os receber como mereciam. Na última noite só música e não é contra esta que nos revoltamos.”
A Semana foi um reforço diante do público. Apresentaram-se escritores com tendências novas que procuraram lançar uma nova visão de mundo, abrindo caminhos diferentes para a arte brasileira.
O modernismo foi um movimento unicamente do Brasil e, como acontecia à Arte de até então, continuamos recebendo influência da vanguarda estrangeira. De novo, a Europa nos mandou sua contribuição, mas, pela primeira vez, com muito menor influência, sem o caráter de coisa a ser imitada. O grande mérito do movimento que nascia em 1922 foi ter a consciência da necessidade de se buscar um nacionalismo mais autêntico e mais crítico.
Propostas
Os objetivos da Semana de Arte Moderna, na verdade, são os objetivos do próprio Modernismo, cujos pontos mais importantes são:
• contra o passadismo – como diz Aníbal Machado: “Não sabemos definir o que queremos mas sabemos discernir o que não queremos”;
• contra a rigidez forma, o hermetismo, o culto de rimas, o verso perfeito dos parnasianos: coloquial, mais próxima da linguagem falada;
• contra o tradicional e o acadêmico;
• seguindo fundamentalmente três preceitos:
- direito à pesquisa;
- estabelecimento de uma consciência nacional;
- atualização da inteligência artística brasileira.
PASSONI, Célia A. N. (org.). Modernismo no Brasil: 1922 a 1930. 1. ed. São Paulo: Núcleo, 1988.
Vocabulário:
pagodeira (s.f.): brincadeira, festa ruidosa.
interdito (adj.): atingido por interdição.
panteada (s.f.): manifestação de desagrado ou de reprovação, feita com os pés a bater no chão.
vanguarda (s,f,): dianteira, que sai à frente.
passadismo (s.m.): culto ao passado.
classicizante (adj.): que se rege por padrões de moderação e equilíbrio que se manifestam numa preocupação pela perfeição da forma baseada no predomício da ideia de conjunto. nefelibata (adj.): (nuvem que anda), característica de quem anda nas nuvens; literato que desconhece ou despreza os processos conhecidos e o bom senso literário, que se afasta das características consagradas na literatura.
parnasiano (adj.): característica de quem cultua a forma.
hermetismo (s.m.): caráter de que é fechado, difícil de ser compreendido.
oratória (s.f.): arte de falar ao público com eloquência.
* se desconhecer mais alguma palavra do texto, procure seu significado no dicionário
Questões de interpretação textual
1. Que artes foram mostradas durante a Semana?
2. Segundo o texto:
... continuamos recebendo influências da vanguarda estrangeira. De novo, a Europa nos mandou sua contribuição, mas, pela primeira vez, com muito menor influência, sem o caráter de coisa a ser limitada. O grande mérito do movimento que nascia em 1922 foi ter consciência da necessidade de se buscar um nacionalismo mais autêntico e mais crítico.
a) O que mudou quanto às influências recebidas?
b) O que é possível entender por “ter a consciência da necessidade de buscar um nacionalismo mais autêntico e mais crítico”?
3. Que objetivo tem o texto?
4. Como o texto faz a citação de outro texto?
5. Em que pessoa é narrado o texto? Porquê?
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário